- 17 de julho de 2017
- Postado por: gvbio
- Category: Blog
Com mais uma estimativa recorde de produção de grãos para a safra 2017 e cerca 25 milhões de hectares cultivados em Sistema Plantio Direto, o Brasil figura entre os principais produtores de alimentos do planeta. Utilizada no país desde a década de 1970, a técnica é uma grande aliada para o controle biológico de pragas e doenças nas culturas, alternativa que já é pauta obrigatória na nova ordem da agricultura mundial. Dados divulgados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) apontam um crescimento de até 20% de utilização desta prática ambientalmente sustentável em todo o mundo, cujo setor já movimenta mais de 17 milhões de dólares anuais.
O projeto ABC Cerrado, desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAR), por meio de uma parceria entre o Ministério da Agricultura e a Embrapa, está realizando cursos de capacitação junto aos agricultores e técnicos para promover a agricultura de baixa emissão de carbono. A iniciativa conta com os recursos do Programa de Investimentos em Florestas, do Banco Mundial, para proporcionar aprimoramento sobre SPD, recuperação de pastagens degradadas, sistemas de integração lavoura pecuária e florestas plantadas.
Ronaldo Trecenti, engenheiro agrônomo e consultor da Pio Consultoria Agroambiental, é instrutor do Senar no projeto. Mestre em Ciências Agrárias, ele explica que o SPD é decisivo para o controle biológico, que tem apresentado resultados muito interessantes devido à formação de palhada na superfície do solo, proporcionando equilíbrio natural e aumentando a atividade microbiológica. Sendo assim, a tecnologia oferece alto potencial para diminuir a utilização de agroquímicos e reduzir custos de produção.
“É uma grande tendência mundial a substituição gradativa de princípios ativos agroquímicos por produtos biológicos, para que a gente possa continuar produzindo de forma mais sustentável ou reduzindo os impactos ambientais. Acredito que cada vez mais o SPD vai poder contribuir pra eficiência de usos desses produtos, que vão garantir a produtividade com sustentabilidade e o menor impacto ao ambiente e ao homem. Aqui no Cerrado, a gente tem percebido uma doença que ocorre especialmente em áreas irrigadas e que afeta as culturas da soja e do feijão, que é o mofo branco. A palha produzida pelo PD, especialmente a braquiária no consórcio com o milho, no sistema Santa Fé desenvolvido pela Embrapa, tem reduzido a incidência do mofo branco e o produtor reduz o número de aplicações contra a doença. No plantio do feijão é dispensado de fazer aplicação de herbicidas pós-emergentes. Isso acaba gerando economia para o produtor e manutenção de produtividade, reduz o custo, mantém produtividade e possibilita a maior lucratividade por área”, revela.
Por outro lado, as pesquisas também mostram que a qualidade do Sistema de Plantio Direto praticado no Brasil não acompanhou a sua grande disseminação nas lavouras. Trecenti aposta na capacitação técnica dos produtores, que vem demonstrando crescente interesse nos cursos ministrados sobre o assunto.
“O que a gente tem visto hoje no Brasil, especialmente no Cerrado, é que em boa parte das áreas de PD, por pressão econômica, inviabilidade da rotação, falta de domínio tecnológico, dificuldade operacional de máquinas e outras dificuldades, o produtor nem sempre consegue fazer uma boa formação de palhada. É necessário investir na rotação de culturas e é fundamental cobrir esse solo e fazer a diversificação de espécies e colocar plantas de cobertura. É através desses investimentos que o produtor vai conseguir melhorar o ambiente e potencializar o controle de pragas e doenças e plantas daninhas que estão competindo com a produtividade e a rentabilidade das áreas de produção.”, explica ele.
Geovani Muller, presidente do sindicato rural do Distrito Federal, terminou o curso há poucos dias e diz que reaprendeu o Plantio Direto bem feito durante o curso.
“O principal efeito é no coró, quando se tem uma massa homogênea na superfície do solo, tem essa distribuição de pragas e consequentemente não tem desequilíbrio, não afeta a produção. Dependendo do caso, até em altos níveis de infestação, mas homogeneamente distribuída na superfície acaba não causando o dano econômico.”, diz Muller.
Produtor da região de Tabatinga, Tiago Falqueto, também participou do treinamento e conta que já aplicava alguns princípios preconizados pelo SPD em suas terras, mas que o conhecimento adquirido é imprescindível para que o sistema alcance a plenitude de seu potencial.
“Temos que cultivar a planta de cobertura no período da entressafra, não mais revolver o solo com equipamento, utilizar o trabalho das plantas para melhorar a matéria orgânica, compactação, e toda essa parte física e química, trabalhando sempre com plantas, evitar ao máximo mexer o solo com máquinas. Sempre fazia a rotação de cultura, mas de tempos em tempos, a gente acreditava que tinha necessidade de revolver o solo com máquinas, descompactar, incorporar o residual de cultura no solo, incorporar calcário, nutrientes. E segundo os estudos, não tem essa necessidade. Fazendo as correções superficiais, cultivando plantas de cobertura e fazendo rotação de cultura se consegue tudo sem a necessidade de mexer com máquina e fica mais barato”, afirma.
FONTE: http://febrapdp.org.br/noticias/297/1/spd-e-controle-biologico:-aliados-rumo-a-sustentabilidade-agricola