- 24 de agosto de 2018
- Postado por: GV Bio
- Category: Blog
Discurso proferido ao final da palestra apresentada no II Fórum de Agricultura Sustentável ocorrido em Goiânia de 20 a 22 de Agosto de 2018 e promovido pelo GAS- Grupo de Agricultura Sustentável.
O Fórum, na sua segunda edição, teve um sucesso considerável pois chegou até a esgotar o número máximo de participantes que foi de 500, tendo participantes que vieram até do Paraguai e Uruguai.
Em virtude de inúmeros pedidos para que eu disponibilizasse o texto lido ao final da palestra do dia 22 de Agosto de 2018 é que faço essa publicação a qual intitulei de : Siga o seu Coração.
Siga o Seu Coração
Nós estamos vivendo tempos realmente interessantes.
Na verdade, o que todos nós estamos presenciando, hoje em dia, é uma verdadeira revolução que está acontecendo aqui mesmo no coração da Agricultura de larga escala brasileira. Aqui mesmo no coração do Brasil. Nessa cidade de Goiânia e no dia de hoje.
Mas essa é uma revolução diferente. É uma revolução onde nenhum tiro será disparado porque as nossas armas não são armas convencionais de destruição. Elas são exatamente o oposto.
As nossas armas são as armas de construção. São as armas da Natureza. São as armas da vida.
As nossas armas são a Biologia, a verdadeira Química e a Física em toda a sua plenitude, além do bom senso e das lições que a Natureza nos ensina dia após dia.
É uma ciência que ainda está sendo escrita nos livros. É uma ciência que nós estamos escrevendo, até mesmo aqui e agora nesse exato momento.
É a ciência que vai obrigar que livros texto de Agricultura sejam re-escritos, como por exemplo a nodulação da soja no estágio V1 com a tríplice inoculação.
Quem disse a vocês, que precisamos de apenas um inoculante ?
Quem disse a vocês que precisamos de um único co-inoculante somente ? Por que não três inoculantes ? Ou 4 ou até mesmo 5 inoculantes ?
Não existe limite para a sua imaginação. O céu é o limite.
Essa é a verdadeira ciência e essas são as nossas verdadeiras armas.
Não é aquela meia ciência, aquela ciência capenga que nos conduziu a essa situação em que nos encontramos hoje em dia, que nos enganou e nos conduziu por décadas e até mesmo séculos, desde os devaneios pseudo-científicos de Justus Von Liebig em 1840 até os dias de hoje, fazendo com que os custos de produção tenham atingido patamares insuportáveis e que a Natureza tenha sido vilipendiada e desrespeitada de todas as maneiras possíveis e imagináveis.
A nossa arma é o equilíbrio entre Cálcio, Magnésio e Potássio na Saturação de Bases do solo conforme nos ensinou o Prof Albrecht, e seus alunos, nas décadas de 40 e 50 e conforme corroborado pela CESB oito décadas mais tarde.
As nossas armas são os coquetéis de gramineas e leguminosas, que com suas raízes repletas de exudatos radiculares, com todas as suas formas e características, comunidades próprias de microrganismos, estruturas e conformações radiculares, seriam os verdadeiros construtores, recuperadores e recicladores de nutrientes do solo.
As nossas armas são as multiplicações técnicas de biológicos “On Farm “ para o controle de fungos, insetos, nematóides e para a aplicação de importantes organismos nitrificantes como o Azospirillum, gerando uma economia de divisas, que hoje deve ir muito além dos 2 bilhões de dólares por ano, honrando dessa maneira a memória e todo o trabalho científico da Dra Joanna Dobereiner na extinta CNEPA, hoje Embrapa Agrobiologia em Seropédica- RJ.
As nossas armas são a utilização do Compost Tea e outras ferramentas como ácidos Húmicos, ácidos Fúlvicos, Kelp, hidrolizados de peixe e ativadores microbiológicos de solo como Bacsol, PSB, E.M.-1, Bokashi, Composto Aeróbico, e outros tantos.
As nossas armas são as Rochas.
Essas mesmas rochas tão vilipendiadas, tão desprezadas e tão pouco entendidas, mas que guardam no seu interior todo o segrêdo dos solos férteis na forma de microelementos raros, mas nem porisso menos importantes, tanto para a nutrição quanto para a ativação do “microbioma” do solo.
Essas, senhoras e senhores, são as nossas armas e essa é a nossa ciência.
Faço minha as palavras do Prof. William A. Albrecht quando disse que :
“Aqueles que ensinam precisam manter sempre o desafio de estudar a Natureza e não os livros”.
E é isso exatamente o que os senhores tem feito nesses últimos anos. Vocês se tornaram verdadeiros Estudantes da Natureza. E, por isso, eu os parabenizo e os congratulo.
Assim como o Reverendo Martin Luther King tinha os seus sonhos, nos idos da década de 60, eu também tenho hoje os meus sonhos.
Todos nós deveríamos ter os nossos próprios sonhos porque é isso que nos mantém vivos e é isso que nos motiva a caminhar sempre em frente, sem sermos conduzidos e manipulados pela propaganda, pela mídia e pelas comunicações técnicas muitas vezes eivadas de interesses comerciais inconfessáveis.
São os nossos sonhos que nos mantém sempre jovens e motivados.
E eu tenho um sonho hoje. E esse sonho é um sonho profundamente enraizado nos sonhos de todo e qualquer agricultor.
Eu sonho que algum dia as empresas não tenham que aterrorizar os agricultores com o espectro da fome o do desabastecimento para vender tecnologias muitas das vezes discutíveis e de eficiência comprovadamente ineficiente.
Eu sonho que, apesar de algumas das nossas dificuldades atuais, um dia nós possamos olhar para os alimentos sem o receio de sermos envenenados e que possamos ver esses mesmos alimentos como adequados para a nossa nutrição, por mais evidente que essa afirmação possa parecer.
Eu tenho um sonho.
Eu sonho que um dia um alimento não será mais julgado, e também quem sabe não será mais remunerado, pelo seu aspecto exterior e cosmético, mas sim pela sua densidade nutricional. Sonho com o dia em que os alimentos sejam sinônimos de nutrição garantida e segura.
Sim, meus amigos, eu tenho um sonho. Eu sonho com o dia em que os agricultores sejam remunerados de forma decente, que sejam respeitados e que tenham um lugar de destaque na nossa sociedade que hoje privilegia muitas atividades menos importantes como jogadores de futebol, cantores, as chamadas “celebridades “ e os operadores do mercado financeiro, ao invés dos verdadeiros heróis da terra e do campo.
Sonho com o dia em que as plantas sejam nutridas de forma adequada para que não se tornem reféns de resgate químico tóxico e que para que tenham maior resistência as pragas e as doenças, e para que possam ser verdadeiramente chamadas de alimento.
Eu tenho um sonho.
Sonho com o dia em que as Rochas sejam utilizadas de forma rotineira com o objetivo maior e altruísta de fornecer nutrição de superior qualidade aos animais e seres humanos que se utilizarem das plantas por elas geradas.
Assim como eu sonho que todos os agricultores, além da academia míope, algum dia reconheçam a importância do SILÍCIO como o grande moderador do solo. Esse mesmo silício contido nas rochas.
Eu tenho um sonho.
Eu sonho que um dia possamos reverter essa verdadeira epidemia de bastardização dos alimentos. Dessa verdadeira epidemia de alimentos quiméricos, de artefatos vegetais e biológicos, que nada tem a ver com os seus semelhantes ancestrais que fizeram a grandeza da raça humana, como por exemplo o trigo, antes da famigerada Revolução Verde.
Eu tenho um sonho.
Eu sonho que vocês todos possam retornar aos seus estados de origem, retornar ao Rio Grande do Sul, ao Paraná, a Santa Catarina, retornar a São Paulo, Minas Gerais, assim como aos diversos recantos de Goiás, Tocantins, retornar ao Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Maranhão, e até mesmo ao vizinho Paraguai, sabendo que alguma coisa mudou.
Sabendo que alguma coisa mudou no campo da mesma forma como também mudou dentro de vocês.
Sonho com o dia em as plantas possam exibir todo o seu potencial genético, e não apenas 30 a 50% desse mesmo potencial como atingem atualmente, por força de um entendimento errôneo sobre como a Natureza funciona e que os solos possam produzir safras recordes, e continuem mantendo a sua fertilidade por muitos e muitos anos, quando então toda a Glória do Senhor será revelada.
Sonho com o dia em que um homem possa ser respeitado por suas realizações, em qualquer setor da nossa sociedade, e que as suas palavras mereçam crédito pelo seu valor intrínseco como ser humano e não por que tenha apresentado títulos e mais títulos, que só medem, a sua submissão ao stablishment acadêmico, mas nunca a sua imaginação, a sua inteligência e muito menos a sua capacidade criativa.
Por fim, meus amigos, sonho que todos tenham a necessária coragem para seguir o seu coração e a sua intuição e que nunca tenham motivos para se arrepender por terem agido dessa maneira assim como eu tenho feito por toda a minha vida.
Que Deus abençoe a todos aqui presentes e para mim foi uma grande honra poder estar aqui nesse dia e poder compartilhar da vossa presença.
Muito obrigado a todos vocês.
José Luiz M Garcia
Instituto de Agricultura Biológica
II Fórum de Agricultura Sustentável
Goiânia, 22 de Agôsto de 2018.
FONTE: https://institutodeagriculturabiologica.org/2018/08/23/siga-o-seu-coracao/